segunda-feira, 11 de outubro de 2021

ARKHI - Brainstorm RPG - Playtest 2ª Temporada Ep. 04

 
 E lá vai mais um relato da segunda onda de playtests do cenário ARKHI, desenvolvido pelo mestre Samuca do BrainstormRPG.

Esse sensacional registro foi feito pelo  Felipe Samedi (Instagram:@felipesamedi)

 Curtam aí!!!!!!

  "Um dia minha alma se tornará tão negra quanto as areias deste deserto ?
Eu pensava nisto montada em Orias, minha Yeldra roubada dos habitantes da Cidade de Ossos, enquanto acompanhava um grupo de aventureiros humanos.


Estávamos famintos, o clarão ofuscante do amanhecer havia passado a pouco e ao iniciar a marcha naquele corredor entre dunas, ouvimos um estranho som de mastigação...
Aparentemente uma criatura se alimentava, semi enterrada na areia, eu não pretendia incomodá-la, mas um de meus companheiros, levado pela fome, ou talvez, pelo caos em sua mente, arremessou uma lança na direção do barulho com a esperança de conseguir abater uma presa facilmente...
NADA é fácil em Lumn, da areia saltou um imenso Diabo Branco, maior que qualquer um de nós. A criatura, irritada por ter sua alimentação interrompida, nos atacou.
 

Arte: Yuri Perkowski

 

Cada um dos viajantes correu para um lado diferente, o velho sacerdote que estava próximo de minha yeldra, tentou subir nela, eu tentei ajuda-lo, mas foi em vão, o animal se assustou com a chegada da criatura, avançou correndo me levando em seu dorso e deixando o velho para trás.
O demônio se atracou ao sacerdote e nós começamos a atacar a distância arremessando pedras e facas, mesmo sendo constantemente alvejado o monstro não largava o homem que por sua vez berrava pedindo para que nós fossemos embora, deixando-o, pois seu destino estava selado, sua carne e sangue seriam consumidos por aquele diabólico horror marmóreo.
Já presenciei saqueadores fugirem por menos, mas havia muito tutano nos ossos daqueles humanos, forte é a fibra em seus músculos, pois se mantiveram firmes, fosse pela comoção com a coragem do amigo que se sacrificava, fosse pelo ódio ou simplesmente pela loucura da fome, todos meus companheiro continuaram a atacar, comigo entre eles.
Um deles teve a audácia de puxar o homem ferido para trás, tomando a frente na luta corporal contra o demônio. Por sorte, o monstro estava mais lento que o normal, já que havia se alimentado a pouco. Nossos ataques surtiram cada vez mais efeito, até que um outro sacerdote, convocando a benção de Nagual, arremessou uma pedra de boleadeira com força e perícia o suficiente para atravessar o crânio do inimigo. Um feito impressionante, o próprio Nagual deve ter guiado seu projétil.
Demônio abatido, milagrosamente todos estávamos vivos, incluindo o velho sacerdote que involuntariamente havia servido de isca. Os deuses que nos perdoem, caiamos sobre o corpo daquela criatura profana como abutres na carniça. Nos momentos seguintes esqueci minha herança élfica e me juntei à aqueles humanos naquele festim sangrento.
Arrancamos as escamas da criatura para futuramente confeccionar uma armadura. Ossos, garras, chifres, tendões, viraram armas, arranquei os olhos, pois eles servem de ingredientes para poção de cura, a bexiga virou cantil, a espinha foi arrancada por pura curiosidade a respeito do que poderia ser feito com ela. Bebemos o sangue, separamos a carne para consumo, nada foi desperdiçado.
O Demônio pretendia profanar nossos corpos, pagamos com a mesma moeda, será que aos poucos nos tornamos demônios também ? 

 

Mantive isso no pensamento enquanto meus companheiros se preparavam para investigar o buraco da onde a criatura havia saído, era provável que no corpo das presas anteriores, haveria algo de valor. Infelizmente não tivemos a chance de verificar, pois o chão aos poucos começou a tremer, a princípio só um de nós reparou e nos deixou em estado de alerta, pouco depois o tremor se intensificou, fugimos da região o quanto antes e ao longe vimos que todo aquele local fora engolido por um imenso Vorme de areia.


Aquele foi o segundo grande perigo do dia e o primeiro quarto da manhã ainda não havia acabado, a vida é intensa em Lumn.
Mantivemos o sacerdote ferido em cima da yeldra e assim prosseguimos a marcha, logo nos aproximamos do imenso paredão de pedra. Aquela maligna montanha de formação estranha, artificial. Eu já havia entrado em contato com a hostil tribo que vive ali, avisei meus companheiros sobre o perigo e contornamos o lugar faceando a parede lisa, tentando assim evitar possíveis ataques de dardos provindos de inimigos escondidos nas fissuras no alto da rocha.
 

Arte:  Carlos Castilho


 

O céu claro e sem nuvens era rasgado por estranhos relâmpagos negros e eu sentia em meu amago que aquilo era o prenuncio de algo ruim, muito ruim.
Nós nos apressamos e logo chegamos no objetivo, um oásis natural entrava em contato com lava vulcânica, a água fervia rapidamente, evaporando e subindo aos céus numa espécie de gêiser, Nós queríamos obter água, o problema era as duas criaturas de patas tentaculares que circulavam o lugar, as terríveis Anhanderas.
Um dos meus companheiros avança como batedor, logo sinaliza me chamando, me aproximo, ele havia encontrado uma bolsa de prata, caída pouco a frente, próxima da água fervente, cercada por lama negra. Combinamos de usar corda e gancho para laçar a bolsa a distância, ele voltou para pegar o equipamento, eu me mantive na mesma posição, neste interim os relâmpagos negros se intensificaram, estranhos gritos de aparente comemoração ressoaram por toda a montanha próxima, as Anhanderas fugiram mergulhando na agua e de repente... tudo se apagou.
O céu se apagou de uma maneira jamais presenciada por mim, não era como se tivesse anoitecido, não havia luminosidade embaixo, na areia, como é comum durante a noite, durante o Lumien, não havia luz, o negro tomou conta de tudo.
Eu rolei pela lama e fiquei imóvel deitada, tentando me camuflar, meus amigos ou se encostaram no paredão de pedra ou no barranco, todos tentando permanecer imóveis e não virar presa daquilo que possivelmente espreitava no escuro.
Aos poucos, do outro lado do lago fervente, uma luz se acendeu, algo grande se aproximava e emitia seu próprio brilho. Não poderíamos fazer nada, além de observar, meu parceiros tinham sorte, seus olhos humanos são pouco adaptados à escuridão, então sua visão sobre a sequência dos acontecimentos era limitada.
Eu não tive a mesma bênção, pela primeira vez amaldiçoei minha origem élfica, pois meus olhos enxergam formas, padrões de calor e frio na escuridão, então eu vi, eu vi tudo...
A criatura que se aproximava era muito grande, emitia luz, era bípede, longos braços com garras, um imenso crânio, tentáculos saindo de suas costas, se movendo em um estranho padrão. Ao mesmo tempo em que ela se aproximava, uma outra entidade ? Ser ? Deus ? Outra coisa se erguia da lama negra, saindo do centro do lago e indo em direção a primeira criatura.
Este segundo possuía um grande corpo também humanoide, muito musculoso e com dezenas de tentáculos saindo do lugar onde deveria ser a cabeça. Coberto de lama ele se aproximava do primeiro, naquilo que me pareceu um rito de bizarro acasalamento, mas antes das entidade se encontrarem, eles estranhamente foram afundando na lama. Conforme afundavam, alguns de meus companheiros ao longe começaram a levitar, a loucura continuou por alguns momentos e assim que os seres desapareceram no fundo da lama, meus companheiros flutuantes caíram ao chão e a luz voltou ao mundo, como se nunca tivesse se apagado.
Após nos recuperarmos deste evento bizarro, nos reunimos novamente, consegui laçar e puxar a bolsa de prata através da lama movediça, recuperamos desta forma, algumas moedas e uma adaga de jade, que fiz questão de guardar.
O meio do dia está próximo, mal posso imaginar o que o segundo período de Xadrah nos reserva. Momentos atrás eu espiei o possível acasalamento de Deuses, serei perdoada por isto ? Há alguma salvação em Lumn ? Só o tempo dirá...
Kamaria, elfa devota de Zenitar."

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