Sessão B1 24/06/2022
Os corredores da cidadela há muito não eram alegres e barulhentos quanto nos dias de outrora. Ironia, assim como seu povo, havia se tornado um lugar amargo e empobrecido pela escassez de riquezas que teimavam em não serem descobertas na complexa teia de caminhos que existiam nos subterrâneos das montanhas ao seu redor.
Apesar do Senhor da Montanha da Lua Bruce Battlecry insistir na mudança da maré para seu povo, muitos já voltavam a olhar para a imensa floresta que se espalhava à vista das muralhas da cidadela como o único fio de esperança que restava aos anões.
Dentre esses que inspiravam os ares da exploração do mar verde uma família já tinha amadurecido a ideia, mas invariavelmente diziam “Mas por onde começar?”
O velhaco Gondorin Falhofusca ao mesmo tempo que incitava a curiosidade geral, amedrontava os mais jovens com histórias das bestas gigantescas que eram capazes de abocanhar uma dúzia de anões de uma única vez. Movidos por motivações semelhantes mas com destinações distintas, os primos Erisdrale e Gundabad balançavam sobre a corda instável da excitação e do temor diante das palavras do velho. Sem muito entender mas certo de acompanhar os passos da prima, o corpulento Soturno apenas concordava com os planos da jovem anã.As palavras dos familiares traziam consternação para o semblante do calado Thorn Diegrribs. Apesar de, para o padrão do povo anão, ter atingido há não muito tempo a maturidade, parecia envelhecido e era ele que possuía mais experiência sobre o mundo exterior. Há pouco tempo havia retornado a Ironia, mais calado, mais embrutecido, e nada revelava sobre sua viagem.
Certo dia a oportunidade bateu à porta dos sonhadores: pelas palavras de Yannik, um dos responsáveis pela administração de recursos da cidadela, o principal comerciante de Ironia, Otto, havia se dirigido a vila de Farlong nas proximidades da montanha como de costume mas a viagem que deveria durar não mais que três dias já se arrastava por duas semanas. Não só alguns suprimentos haviam se esgotado, mas principalmente a angústia se abateu sobre as autoridades anãs. Yannik já tendo ouvido falar sobre a intenção do grupo, interpelou-os e fez a proposta “Desçam a montanha, sigam a estrada até Farlong. Achem Otto e voltem logo. Se não se perderem no caminho, em meio dia vocês chegam lá. Tomem 3 moedas de ouro para comerem alguma coisa por lá. Otto fala sempre num lugar chamado Grifo de Latão, parece que a comida é boa. Não gastem um tostão com aquele mijo de rato da Stagen Lager que eles vendem lá. Nossa Lua de Cristal feita de trigo é infinitamente melhor. Não demorem.”Sem pensar duas vezes, o grupo junta suas coisas e parte pelos portões de Ironia.
A estrada desce a montanha no sentido sudeste e a caminhada é fácil para as pernas dos anões. Haviam partido logo após o meio-dia e pretendiam chegar à noite na vila. No meio da tarde já atravessando a densa floresta da região, se deparam com um cão que permanece curiosamente observado o grupo de anões. Gundabad joga um pedaço de comida ao que alegremente aceita. Eri se aproxima para afagar o animal, que abana o rabo efusivamente. Sob olhar desconfiado dos demais Eri diz “É uma menina! Pronto, agora você se chama Amarela e você vem com a gente.” Alegremente a cadela acompanha a anã.
No início da noite alcançam a vila de Farlong. Não mais que quarenta casas de pedra e madeira constituem a pequena vila. É possível avistar um estábulo e talvez uma mercearia, que já está fechada. Poucas pessoas ainda circulam pelas ruas de terra, mas é possível identificar cantoria e risadas vindo de uma construção rapidamente identificada pela placa em sua entrada como a Taberna Grifo de Latão.
Assim que adentram a taberna, os olhos se viram para o grupo de sisudos anões, e o cantor que entoava uma ode ao coração partido de um marido abandonado, falhou miseravelmente em tentar manter o tom de uma nota aparentemente fácil.
Rapidamente uma moça vem insegura, oferecer uma mesa aos anões que aceitam. O cantor volta à sua canção sobre corações despedaçados e os anões aceitam a indicação do prato do dia, um caprichado guisado com batatas, cenouras e rabanetes. Gondorin inconformado bate com o punho na mesa e se dirige ao pobre bardo “Ei, você aí, só sabe cantar essa música de corno?” Os demais frequentadores caem na gargalhada e Gundabad se adianta pedindo a oportunidade para entoar uma canção. O cantor olha confuso para a atendente, e cede o espaço para o anão. “Agora sim, música de batalha, ouro e glória!” grita Soturno. Gundabad limpa a garganta e começa a cantar um hino de louvor a seu poderoso deus... “Não era e isso o que eu tava esperando” comentam os anões.
Os pratos são servidos, o cantor volta a seu posto e as conversas retornam ao salão. Entre uma garfada e outra, alguns dos anões ouvem as conversas de alguns dos presentes “Mas ele ainda está preso? Está sim, lá no estábulo. Tem dois rapazes tomando conta dele. Tá amarrado e parece que tá com a perna quebrada. Mandaram chamar a guarda, mas você sabe como é, ninguém liga pra esse fim de mundo... Bah, era melhor matar logo, você não viu a ruindade que fizeram com o velho Brian... Pois é, o rapaz chegou correndo desesperado pela estrada. Também, se você visse carnearem o velho como ele viu, ia correr mesmo. E foram três fazendas que eles saquearam né? Isso, na quarta os meninos do Jhow ouviram a tempo e soltaram os cachorros em cima deles e pegaram as pás e enxadas e partiram pra cima... foi quando pegaram esse aí, com a perna quebrada...”
A conversa chama atenção dos anões, e Eri questiona o que exatamente havia acontecido. Um dos aldeões explica que houve ataques de goblins em fazendas das proximidades. Além das pilhagens, um fazendeiro teve sua carroça atacada e foi morto. No último dos ataques, conseguiram afugentar os goblins e deixaram um com a perna quebrada para trás, que está preso no estábulo a espera da chegada da guarda.
Os anões confabulam rapidamente, ficam preocupados com a possibilidade dos ataques terem relação com o sumiço de Otto. Os aldeões confirmam que Otto esteve na cidade a cerca de duas semanas e que deveria há muito estar de volta às montanhas. Eri angustiada explica que sabe falar a língua dos goblins, e se oferece para interrogar o prisioneiro. Fionde, um aldeão parrudo e tanoeiro da vila, conduz os anões até a estalagem.Inicialmente assustado com a presença dos anões, o goblin fica curioso com a anã que fala sua língua. Depois de alguma negociação, muitas ameaças, cascudos e o choro escandaloso, o goblin que se chama Iga, resolve falar “Eu digo onde eles estão, se você me der um prato de comida. Mas tem outra condição... se eu disser, vocês vão lá em matam todos aqueles ratos...” O goblin havia se sentido traído pelos comparsas e agora nutria um forte sentimento de vingança.
Enquanto Gundabad improvisa uma tala para a perna quebrada da criatura, o que em determinado momento faz o goblin gritar desesperado de dor, descobre que o grupo das criaturas estava se escondendo numa gruta em algum lugar no pântano que existe além do limite das fazendas, a nordeste da vila.
Os anões começam a planejar sua ação.
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