quinta-feira, 25 de abril de 2024

FastPlay com a máquina Diogo Nogueira, de Primal Quest, Fire & Fangs, Os Mortos Estão Chegando... e muitos outros!

Extremamente feliz por ter rolado uns dados com o celebrado Diogo Nogueira (@diogo_oldskull), uma das mais importantes figuras na cena RPG brasileira, designer de jogos e aventuras como Primal Quest, Fire & Fangs, Solar Blades & Cosmic Spells e The Halls of the Blood King,  reconhecidos não só aqui mas também pela comunidade estrangeira, e que recentemente teve o seu  Os Mortos Estão Chegando financiado com sucesso e editado pela Caramelo Jogos (caramelojogos.com.br).

Além de designer o Diogo mantém o seu selo próprio Old Skull Publishing (oldskull-publishing.com) e também o podcast Weird Games & Weirder People.

Bom, deixa eu parar de falar e vamos ouvir o cara!


1) Primeiro RPG?

R. Tagmar, o primeiro RPG do Brasil também foi o meu primeiro RPG. Conheci com uns amigos novos, crianças mais velhas, de um prédio que acabara de me mudar. Elas me viram jogando um livro-jogo de Aventuras Fantásticas e, sabiamente, tiveram a ideia de me chamar pra jogar RPG. Primeira sessão inesquecível. Fiz um guerreirão de montante morri com um crítico que arrancou minha perna e depois a gente foi enterrar minha ficha no quintal do prédio! Não tinha como eu não ficar vidrado nesse jogo!

2) RPG de Cabeceira?

R. Isso muda com o tempo, não? Ou não. Acho que vou dizer o Dungeon Crawl Classics RPG de novo. Talvez ele não mais represente exatamente o jogo e o sistema que eu prefira jogar atualmente, mas o espírito do jogo que ele transmite, a comunidade que ele cultivou, e o quanto eu aprendi com ele, o DCC RPG vai ser meu RPG de cabeceira por um bom tempo.

3) Presencial ou Virtual?

R. Presencial sem sombra de dúvida. Eu até tento jogar online, mas eu tenho dificuldade de me concentrar mexendo em um dispositivo ligado a uma rede especializada em nos distrair. Tenho tentado melhorar, mas no presencial é outra coisa. Olho no olho. A gente ri junto, divide um lanche, tem uma humanidade que, no mundo cada vez mais isolado no qual a gente vive, eu sinto bastante falta.

4) Material físico ou digital?

R. Físico. Especialmente hoje em dia em que vejo RPGs como brinquedos/ferramentas que você usa durante o jogo. O manuseio do livro físico ainda é mais ágil que o digital, e o tato e a experiência sensorial de cada livro diferente, papel, passar pela paginas e ilustrações quando você folheia o livro tem outra experiência. Digital é bem útil, mas é um quebra galho. E já trabalho olhando pra tela, vemos filmes, séries, procuro oportunidades pra não olhar para telas sempre que posso.

5) Uma Classe?

R. Dungeon Master? Sou aquele eterno DM. Mas quando jogo gosto de Ladrão, ou Guerreiro ou algo assim. Bem inspirado por Fafhrd e Grey Mouser, meus ideais do aventureiro de RPG de fantasia.

6) Teste de atributo?

R. Confesso que não sou muito ligado nessa polêmica que rola por aqui não. Teste de atributo? Depende do jogo. Depende da experiência de jogo que você e seu grupo querem ter, e eu topo ambos dependendo disso tudo que eu falei. Mas supondo que estamos falando de um jogo clássico OSR de fantasia, minha abordagem é o meio termo. Qualquer extremismo é danoso. É do meu entender que é do interesse do jogador evitar um Teste de Atributo. Ele vai buscar condições ficcionais no jogo, seja items, posição tática, ou descrição precisa de uma ação para não restar dúvidas de que seu personagem conseguiu fazer o que queria. Se há uma chave escondida dentro do travesseiro e o jogador descreve que ele vai abrir o travesseiro para ver se tem algo dentro, eu não vou pedir um Teste de Atributo. Mas se ele só fala que vai procurar tu pede um teste. Escalar uma arvore só para olhar o caminho a frente em um dia ensolarado e calmo não requer teste. Mas em uma noite de lua nova, com 2d6 wargs te perseguindo, chovendo forte, você fala que quer subir uma árvore pra tentar despistar os wargs? Vou pedir um teste, tem muitas variantes que podem botar em risco o sucesso da ação, muita imprevisibilidade e a falha tem consequências bem significativas. Agora se o jogador passou uma parte da sessão preparando cuidadosamente um caminho e armadilha para seguir quando os wargs fossem atrás dele, até com uma escada que ele recolhe, eu não pediria. Deu pra entender? Não acho razoável falar que sempre pede ou nunca pede. É uma ferramenta. Use quando apropriado.

7) Aventura ou Campanha?

R. Os dois. Aventuras que possam ser "experienciadas" individualmente, mas que ao longo do tempo possam formar uma narrativa por meio dos personagens, locais, facções, e sociedades afetadas no mundo.

8) Aventura Favorita?

R. Eu poderia dizer The Isle of Dread (NdE TSR, D&D por David "Zeb" Cook e Tom Moldvay, 1981), um grande clássico de aventuras old-school, sandbox, hexcrawl, bem sword and sorcery. Mas vou de uma mais recente, pro Best Left Buried (NdE Soulmuppet Publishing), chamada Beneath the Missing Sea (NdE por S. Sleney, Z. Cox e B. Brown). Um grande cenário sandbox / aventura em um mundo de fantasia sombria em que um Grande Mar desaparece da noite pro dia e uma doença terrível começa a afetar a população. Tem muita oportunidade de RP, de solução de problemas, elementos de horror, dungeon crawl, rituais arcanos, Deuses Esquecidos. MUITO BOM!

9) Sessão Inesquecível?

R. Sem contar a primeira em que eu morri com o personagem cortado ao meio e a gente foi enterrar a ficha no quintal? Deixa eu ver. Na Gen Con de 2023 eu joguei uma mesa extra com o Joey Royale no comando só com amigos e galera do RPG e foi incrível. Jogamos Ninja City pra DCC RPG e foi um dos momentos mais legais de todas as convenções que eu já fui!

10) Não joguei, mas queira experimentar

R. Pendragon (NdE Originalmente publicada pela Chaosium Inc. em 1985) . Falam tão bem do jogo. Eu tenho que um dia tentar pegar ele direito pra jogar com alguém!

11) Morgana Le Fay ou Galadriel?

R. Morgana Le Fay. Gosto mais de sombras que de luz eu acho. 

12) Preparar ou improvisar?

R. Preparar para improvisar. Preparar algumas anotações, e ter ferramentas para poder improvisar com fluidez e criatividade.

13) Livro Inspirador?

R. Já vi que meu amigo Pedro Borges falou o meu clássico “Roube como um Artista”, então vou falar um outro que estou lendo ainda e acabei de indicar pra ele também. Rules of Play (NdE Katie Salen e Eric Zimmerman), ou Regras do Jogo aqui. Um livrão sobre Game Design que aborda o Design de Jogos por óticas bem interessante passando pelas regras do jogo, a experiência de jogar o jogo, e a cultura ao redor e dentro dele. É sensacional. Para quem acha essa teorias de jogos que ouvimos muito nas discussões de RPG por aí um pouco tendenciosas (e são mesmo), esse livro traz muitas visões e abordagens com Game Design que dão uma refrescada nas ideias.

14) Filme ou Série Inspiradora?

R. Putz, são tantas. Quase todos os meus jogos tem alguma ligação com conteúdo de cultura pop como séries, filmes, quadrinhos.

Mas vou pegar uma razoavelmente recente pra indicar. Chama-se Severance, ou Ruptura (NdE Apple TV), uma série de ficção-científica, drama/comédia que faz uma analise do mundo atual do trabalho de maneira muito criativa, envolvente, assustadora e cativante. Vale a pena ver e criar um jogo em cima!


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