17/07/2022
Mais um dia nasce na movimentada cidade de Rycote. Vizinhos abrem suas janelas e na maioria das vezes cumprimentam seus iguais com sorrisos e desejos de um dia próspero. Um ou outro olha com desdém para a janela adiante e sem cerimônia despeja uma bacia de água suja naquela direção, mirando cuidadosamente para acertar o felino querido pelo desafeto e quem sabe, acertar alguns respingos dentro da outra casa.
Em uma certa residência localizada num dos distritos mais nobre da cidade, cujas paredes já deveriam ter recebido uma nova pintura há algum tempo e os móveis claramente apresentam marcas que de dias melhores já são distantes, um homem que aparenta ser bem mais velho do que realmente é abre o grimório que ainda possui poucas páginas preenchidas. Lotar devaneia sobre o dia em que todas aquelas páginas estarão preenchidas com palavras arcanas e complexas fórmulas herméticas, mas logo acorda do sonho e se debruça sobre o desfio de desvendar o segundo encantamento copiado para o livro, que vem se demonstrando um inesperado desafio nos últimos dias.
Um halfling de andar gingado acaba de fazer um farto café da manhã e com passadas tranquilas e saudações alegres aos transeuntes com quem cruza, vai deixando para traz as portas da Taverna Raposa Astuta. Isiscarus ruma despreocupado para o popular Distrito do Pequeno Lar, local de pessoas simples e trabalhadoras que que suam para garantir seu sustento, mas onde também existem os espertos, que com a experiência das ruas acabam por descobrir os atalhos da vida.
Conforme combinado no dia anterior,
Isicarus rum apara o Bafo de Bode, uma pequena e escura taberna onde é recebido
por outro halfling, Boldo, que havia combinado de fornecer um mapa com parte do
primeiro nível das ruínas de Rycote. Alegremente os dois pequeninos começam a
examinar o mapa. Isiscarus reconhece a indicação do Poço de Duralis, que já
havia conhecido na primeira incursão aos esgotos. Boldo mostra as diversas anotações,
“Verme Escarlate aqui”, “a sala dos muitos caminhos”, “Daniara caiu aqui”, “nesta
sala grande Adam, Novellus e Tripticus acharam coisas escondidas - $”...
Satisfeito com a negociação, Isiscarus se despede e segue para adquirir novos equipamentos.
Além de ganchos, cordas e outros itens mais comuns, o halfing compra um
interessante conjunto de 3 hastes que através de roscas se encaixam umas nas
outras, e juntas atingem 3m de comprimento. Depois de zanzar pela cidade, já no
fim da tarde, retorna a Raposa Astuta.
Diferente da maioria dos anões, Valgrim é um sujeito simpático. De sorriso fácil e gargalhada barulhenta, as vezes causa desconfiança nos desconhecidos que julgam estarem sendo tripudiados ou enganados. Como nos últimos dias, o rotundo anão segue até a Biblioteca de Rycote. Direto, segue até a jovem Diana que apesar das profundas olheiras, tem um amplo sorriso estampado no rosto. “Mestre Valgrim, me desculpo por meu aspecto, mas tomada pela curiosidade, praticamente varei a noite em minha pesquisa”. Depois de várias explicações vem revelação final: a assinatura pertence a uma estudiosa élfica chama Tantaniel. Segundo os registros da biblioteca, existem volumes de sua autoria ali catalogados de estudos sobre Astronomia, Geografia e Geologia.
Depois de algum tempo, a bibliotecária deixa na mesa ocupada por Valgrim cinco volumes assinados por Tantaniel, três deles sobre geografia, um sobre geologia e o último, astronomia. O anão se debruça sobre os escritos relativos à geologia: todos eles tratam de uma região localizada à sudeste de Vassília, o continente, a região costeira chamada de Albadian e as grandes ilhas Vanir e Núria. Examinando os pequenos mapas e os textos contidos nos volumes, Valgrim se recosta na cadeira e sem cerimônia se espreguiça e estala sonoramente os dedos, Sorrindo, havia identificado um grande lado chamado Dagon, e uma extensa cordilheira que praticamente o circunda, a Coluna do Dragão, localizados na ilha de Vanir. O dia fora pesado, mas certamente havia rendido preciosos frutos.
O grupo se encontra na taberna. Lotar se apresenta desanimado e calado, e finalmente revela que havia falhado mais uma vez em entender o encantamento ao qual se dedicava. Valgrim, se divertindo da miséria de companheiro e eufórico com suas descobertas, pede a Groot, o taberneiro, uma caneca da cerveja mais forte que a Raposa Astuta tem a disposição. Uma aromática e escura stout é servida ao anão.
Isiscarus mostra o mapa que havia adquirido, e atiça a curiosidade dos demais. Cada vez mais, as ruínas lançam seu charme sobre os companheiros. Valgrim já sofrendo dos efeitos da forte cerveja, vai listando suas descobertas: a assinatura de Tantaniel, a rápida leitura dos primeiros volumes assinados pela elfa e a provável região indicada pelo mapa encontrado dentro da Senhora da Serpente.
A manhã seguinte vê mais uma vez os companheiros seguirem suas investigações. Nessa porém, uma novidade surge: Ekundayo procura Bauron e anuncia que seguiria seu próprio caminho.
Valgrim procura Diana na biblioteca em busca de mais informações sobre Tantaniel. A bibliotecária procura junto com o anão a ajuda de Mestre Sabatino, que neste dia examinava concentradamente um volume em companhia de uma xícara de chá. Praticamente sem retirar os olhos do livro que lia, Sabatino confirma as informações que Valgrim já havia coletado e acrescenta que seus escritos datam de aproximadamente mil anos atrás, realmente se especializou na região à sudeste de Vassília, e por algum tempo se associou a um grupo de aventureiros chamados de A Companhia da Flâmula Azul. Dizem que em seus últimos dias Tantaniel foi tomada pela loucura. Não há registros de seu fim.
Agradecendo o anão retorna aos volumes e examina o relativo a astronomia: foi a último a ser escrito. Comparando as caligrafias, neste volume se tornara incerta e cheia de garranchos, e piorava cada vez mais no decorrer das páginas. A última porção desse volume causa um misto de estranheza e tensão no anão: rabiscos sem sentido, palavra indecifráveis e letras desconexas. O texto em si inicia como um estudo sobre estrelas e constelações, identifica corpos celestes notáveis e outros agrupamentos observáveis a noite. Com o passar das páginas, não só a caligrafia se altera. O conteúdo passa a assumir um caráter quase místico, onde são citadas estrelas escondidas e “galáxias distantes” onde colossais deuses antigos aguardam adormecidos, para um dia retornar a este mundo... ao invés de um sorriso, o rosto de Valgrim agora estampa um ar de confusão.
Isiscarus resolve investigar o cemitério. Compra alguns lírios nas proximidades e dá uma volta tranquila por uma grande área do local. Apenas uma dupla de guardas cruza seu caminho. Confiante de que não estava sendo seguido, direciona seus passos até a entrada da Catacumba dos Esquecidos. O mesmo portão de metal oxidado, porém um nova e pesada corrente é trancada por um largo cadeado. “Molezinha” pensa o halfling. Deposita os lírios numa tumba aleatória e segue até a saída norte da cidade. Após vencer os portões, atravessa um grupo de casebres onde diversos vendedores oferecem seus produtos. Em alguns instantes os vendedores sorridentes se afastam com algumas moedas e Isiscarus segue seu caminho agora carregando alguns pães de milho, queijo de cabra, leite azedo temperado e um naco de presunto defumado. Assoviando segue seu caminho.
São poucos os passos que levam o halfling até uma grande estrutura de pedra, semelhante a um galpão. Ali, como haviam indicado, se localiza a entrada norte para as ruínas do subterrâneo gerida pela Guida dos Mineradores. Assim que se aproxima da entrada é rapidamente interpelado por um pequeno grupo de anões. A desconfiança inicial é rapidamente dissipada pelas palavras fáceis e o farto desjejum oferecido pelo halfling. Os anões animadamente abrem um odre de vinho e se refastelam nas iguarias oferecidas pelo visitante. Amenidades são ditas, nomes são trocados e depois de algum tempo, o halfling oportunamente chamado de “Zacarias” começa a sondar as informações sobre o acesso às ruínas. Mungo, o encarregado, após um cuidado inicial, cede a conversa fácil de “Zacarias” e solta a língua. Sim, ali é um acesso rápido para as áreas de exploração das ruínas. Vez por outra os próprios anões descem para procurar algumas riquezas, mas em princípio o acesso só estaria autorizado aos associados da Guilda. Porém, uma contribuição de 3gp poderia viabilizar a entrada de “amigos” aos corredores. Existe uma condição, esse acesso especial só poderia acontecer à noite, bem como a saída dos visitantes. Sorriso, um dos outros anões relata que ele mesmo já encontrou algumas coisas que garantiram boas noites de comida e bebida. Questionados, os anões dizem que há relatos que um certo halfling chamado Tripticus havia acessado o terceiro nível das ruínas por ali, mas que os anões mesmo só haviam chegado ao segundo.
À noite, nova rodada de conversas na Raposa Astuta onde todas as novidades são contadas. Lotar tem dificuldades de esconder a desolação por mais um dia de fracasso em seus estudos.
É a quarta manhã das investigações. Drev anuncia ao grupo que precisaria resolver uma certa pendência em sua vila, e se despede. Isiscarus vai dar uma volta na cidade e Lotar se concentra nos estudos.
Valgrim chega determinado na biblioteca e se debruça sobre os livros de Tantaniel. Examina cuidadosamente o volume de geologia. Este se parece contemporâneo aos que abordam a geografia da região sudoeste de Vassília. Disserta sobre o estudo de estruturas rochosas e suas indicações e por vários capítulos aborda a região central de Vanir, onde coma ajuda do clã de anões local realizou um grande gama de estudos na região delimitada pela Coluna do Dragão, chama de Vale do Trovão. Pesquisou os túneis já perfurados e participou de novas empreitadas. Um parágrafo específico chama a atenção de Valgrim: Tantaniel faz referência ao Vale do Trovão como o local as ascensão de Exdos, o deus da Guerra e da Cura...
Do tomo sobre astronomia faz cópias das últimas páginas, aquelas que contém rabiscos e palavras desconexas.
A noite na Raposa Astuta, Lotar se aproxima sorridente e com andar confiante: finalmente havia vencido o encantamento!
Valgrim fala sobre as novas descobertas e diz precisar de ajuda nas pesquisas. Discutem demoradamente sobre quais os caminhos a serem tomados a partir desse ponto, mas não conseguem bater o martelo. Combinam de se encontrar na manhã seguinte para darem continuidade aos trabalhos. Lotar se despede e Buaron, Teebo, Valgrim e Isiscarus sobem para o quarto.
Ao abrirem a porta, notam a janela aberta.... correm para verificar seus pertences, mas nada parece ter sido roubado. Olhando ao redor, avistam uma pequena caixa de madeira trabalhado em pirografia sobre a mesa. Isiscarus pede que todos saiam do quarto e da porta, com sua nova vara de encaixe, empurra a pequena caixa. A caixa cai com um pequeno baque e sua tampa se abre. De dentro dela, um dedo decepado rola ao chão.
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