quinta-feira, 10 de novembro de 2022

OLD DRAGON Sessão C1 E começa a aventura!!!

08/11/2022

É noite em toda a Floresta de Calenglad.

Em algum lugar na imensidão do mar verde, um grupo se reúne em volta de uma pequena fogueira.  

As vozes são baixas, de maneira a garantir sua segurança, mesmo estando eles numa área de vegetação densa e aparentemente à alguma distância da vila mais próxima.

Barin, o Castanho, vez por outra nota a si mesmo encarando aquele velho e desgrenhado anão que se senta do outro lado do fogo. Não consegue lembrar da Cidadela de Irônia, de onde veio, daquela figura que certamente se destacaria dos demais citadinos. Barba e cabelos grisalhos e completamente desalinhados, o nariz torto por uma velha e profunda cicatriz que o atravessa, além das demais marcas que cruzam rosto e braços; numa das orelhas, apesar das quatro argolas de prata ali penduradas, falta um bom pedaço da
cartilagem que certamente foi arrancada por algum inimigo. Provavelmente do odor pouco agradável que o velho anão exala, venha sua alcunha: Gambá. Por alguns instantes Barin se perde encarando o velho, que em dado momento encara-o de volta, fazendo o jovem anão desconcertado desviar o olhar.

Os novatos assim que chegaram foram apresentados a única mulher no discreto acampamento. Alethéa possui traços finos em um rosto muito arredondado. As orelhas alongadas que vez por outra escapam por debaixo dos sedosos cabelos castanhos, parecem um tanto fora de contexto naquela face. De estatura baixa e dedos finos, o corpo parece mais curvilíneo do que deveria. Apesar de reservada, a jovem responde com segurança a questionamentos feitos pelo sorridente e bem-articulado Rajnesh, que parece ser o mais velho dos novatos. Vez por outra o olhar da mulher cruza rapidamente com o de um rapaz de longos cabelos castanhos e barba vistosa. Parece magro demais para suportar a dureza do combate, um símbolo religioso se destaca pendurado numa fina corrente em seu peito. Chama-se Melo.

Por alguns minutos os sussurros haviam cessado e todos permaneciam em silêncio. “Droga, tem alguma coisa remexendo no mato... sabia que ia dar problema essa história... droga...” disse Chopin, um hafling de olhos fundos e uma cabeleira crespa ruiva, que mais se assemelha a um grande elmo redondo sobre a pequena cabeça.

Todos ficam em alerta, um assobio vem da escuridão. Gambá, o velho anão, responde o assobio e grunhe então alguma coisa que os novatos demoram alguns instantes para entender... “Bigsyg.”

Bigsyg é um homem de meia idade, cabelos curtos e barba por fazer. Um tapa olho cruza o rosto. As roupas gastas são de alguém que passa muito tempo embrenhado na floresta. Bigsyg foi aquele que reuniu os novatos neste acampamento. “Chegou a hora. Amanhã vocês estreiam.”

A Floresta de Calenglad viveu no passado o apogeu do povo élfico, mas com o tempo, os povoados do povo belo foram abandonados bem como estes desapareceram da região. Da mesma forma, os anões viram seus recursos escassearem até que uma única cidadela, Irônia, resistisse habitada nas montanhas ao norte.  

Então, os homens tomaram para si o direito de expandir suas terras, erguendo novas vilas e rasgando a floresta com suas estradas. A cidade de Stagenhoe, no extremo oeste da floresta, se autoproclamou capital desse novo reino.

Como forma de administrar a região tributos foram criados, seja em forma de moeda, seja em produtos. Com o passar dos anos os tributos começaram a pesar nos bolsos dos aldeões, sem que maiores melhorias fossem por eles percebidas.  Muitos sentiram-se injustiçados, e aqui e acolá, vozes começaram a se erguer contra a impositiva Stagenhoe.

E alguns, além de suas vozes, erguerem também suas armas.

Bigsyg é conhecido como uma das figuras chave dentro de um grupo que ativamente se contrapõe ao jugo de Stagenhoe. A capital os chama de bandidos, alguns os chamam de Rebeldes, e outros de Guardiões. Muitos os chamam simplesmente de esperança. E agora, Rajnesh, Barin, Melo e Chopin são parte deles.

Rapidamente o caolho abre um pedaço de papel no qual um mapa está rascunhado. “Dois dias atrás um bando das ratazanas da capital se meteu numa confusão feia na Terra dos Taylor, um juntado de fazendas ali pros lados de Turana. Um grandão, chamado Gavares, açoitou até a morte um fazendeiro velho. O trato é que lá nos Taylor eles só pagassem os impostos em produtos, e os ratos cobraram produtos e ouro.... o pobre do velho disse que não pagava, e aí deu no que deu... diz que o velho tinha uma neta, que pegou um forcado e meteu no bucho de um dos soldados. Agora, essa menina, tá sendo levada para alguma das grandes cidades pra ser julgada, e claro que vão enforcar ela.”

“Essa é a missão de vocês: resgatem a menina, seu nome é Nádia.”

O silêncio em roda da fogueira é interrompido por um som baixo e gutural.... Depois de limpar a garganta, Gambá descarrega uma volumosa cusparada que quase apaga o fogo.

Bigsyg então continua, “vocês escolhem onde e o melhor jeito de fazer... a gente não quer que fique na cara que a gente tá envolvido. Se as ratazanas desconfiarem, vão descontar nos velhos dos Taylor. Já começamos a espalhar que tem um bando de ladrão de estrada que tá agindo por ali. Se vocês quiserem mostrar a cara pros ratos, muito bem. Se quiserem ser mais malandros, bom também. Ninguém ainda conhece vocês, não é?” por alguns instantes os novatos se entreolham.

O líder então diz que estão nas redondezas de Turana, e que os novatos partirão na próxima manhã. Deveriam usar a noite para planejar e descansar, e enquanto isso Bigsyg iria a Turana conseguir os equipamentos que desejassem. Barin pergunta se poderia conseguir cavalos. “Cavalo aqui não dá. Você sabe que é muito caro por aqui, e lá em Turana não vai ter ninguém disposto a vender”, diz Bigsyg.

Barin, o Castanho, então arrisca “Ouvi falar num tal de Fogo Alquímico, isso você consegue?” Bigsyg arqueia a única sobrancelha que possui e com um sorriso olha para Gambá. O velho anão mais uma vez limpa ruidosamente a garganta e contorce a boca, revelando que vários dentes faltam ali... por mais estranho que pareça, aquilo se assemelhava a um sorriso. “É, o garoto sabe pedir... consigo um desses, só um... e isso vai custar o meu saco!” Gambá chacoalha descontroladamente a barriga.

“Acho que não precisamos de muita coisa”, emenda o animado Rajnesh. “Uma corda, arpéu, pederneira... meia dúzia de ânforas de óleo... pé-de-cabra? Vocês conseguem um pé-de-cabra?” Gambá tira de sua trouxa um e o entrega a Barin. “É Gambá, esse aí é o profissional”, sorri Bigsyg.

“Uma guarnição de soldados... resgatar uma garota... no meio da estrada... ai caramba, sei não, isso vai dar problema”, resmunga Chopin.

Enquanto a lista de equipamentos é discutida, Alethéa se aproxima de Melo, olha para um estojo comprido e cilíndrico que carrega, e sacode negativamente a cabeça. Em seguida retira de sua mochila um saco de algodão e um pequeno frasco de prata. “Dentro do saco há alguns emplastros de ervas. Elas ajudam a cicatrizar ferimentos. A cura é pouca, mas rápida”. Olha nos olhos do jovem e lhe estende o frasco de prata, e quando este estende a mão para pegá-lo, as mãos se tocam brevemente e Melo desvia o olhar envergonhado. “Invisibilidade. Uma única dose. Quero o frasco de volta”. Rajnesh sorri diante da revelação do conteúdo do frasco. “Mas o que tem naquele outro estojo?” Melo questiona. “Artes arcanas, que não conversam bem com as dádivas dos deuses. Não vai ser útil” é a resposta.

Bigsyg olha para o halfling e questiona sobre algum equipamento extra. "Agradeço, mas eu tenho tudo o que preciso aqui comigo, meu chapa" responde Chopin, erguendo sua adaga e apontando para a mochila despreocupadamente.

Debruçados sobre o mapa, Bigsyg indica a região a nordeste de Turana, como o local onde estão  acampados. Um grupo maior dos soldados, conduzindo três carroças, saiu ainda neste dia de Turana e ruma em direção das montanhas. O outro, seguindo com uma carroça, deixou a Terra dos Taylor. Se encontrarão no entroncamento das estradas, se já não o fizeram. Provavelmente devem descansar na torre de vigília que tá lá no pé da montanha. São onze ratos.”

Perguntam ao líder por onde seguir, e Bigsyg diz que essa decisão é deles.

Melo pergunta se caso seguissem pela Terra dos Taylor, e dado que a jovem Nádia é de lá, se poderiam conseguir cavalos. “Pode ser uma boa tentativa. Toma, mostra isso pro Velho Taylor. Ele vai saber quem mandou vocês. E então vocês desenrolam lá” e entrega uma pedra muito lisa, do tamanho de uma cereja e com uma runa entalhada ao jovem.

“Ahhh, quase ia me esquecendo. Um amigo nosso, lá de Turana, fez um conserto especial numa das carroças... é capaz dela quebrar, só não sei onde exatamente...”

O andarilho se levanta e anda rumo à floresta. Ao chegar no limite da iluminação da luz da fogueira, se vira “É, amanhã vai ser animado... bons sonhos criançada.”


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